Publicado em 13/07/2010
Assim é que o negro conhece o seu lugar
“Você não pega uma pessoa que ficou acorrentada vários anos, retira as correntes, leva para a linha de partida de uma corrida e diz ‘você agora está livre para competir com todos os outros’. Ninguém acredita que isso seja justo. Retirar as correntes não basta para abrir a porta da oportunidade. Todo cidadão deve ter a capacidade de abrir aquela porta.”
Trecho do discurso de Lyndon Johnson, na Howard University, em 1965.
Quem primeiro usou a expressão “ação afirmativa” foi o presidente Kennedy, numa “Executive Order”, de 1963.
Lyndon Johnson sucedeu e pôs na Lei a obra social de Kennedy.
Em 1964, Johnson aprovou a “Lei dos Direitos Civis”.
Em 1965, assinou o “Voting Rights Act”, que impediu a discriminação contra o ato de votar.
“Derrubar para sempre não só as barreiras na lei e na vida pública, mas as que determinam a condição de muitos americanos apenas pela cor da pele. É preciso desfazer os preconceitos que vivem no coração de muitos e diminuem os que os animam. Preconceitos que dividem esta grande democracia e fazem mal – muito mal – aos filhos de Deus.”
Johnson, no mesmo discurso.
Johnson nomeou o primeiro negro ministro da Suprema Corte, Thurgood Marshall.
Estas reflexões se inspiram no livro “Ação Afirmativa & Princípio Constitucional da Igualdade – O Direito como Instrumeno de Transformação Social – A experiênciência dos EUA”, de Joaquim B. Barbosa Gomes, de 2001, publicado pela editora Renovar.
Joaquim Barbosa é ministro do Supremo Tribunal Federal.
Trata-se de um livro indispensável a quem ache que não basta tirar as correntes dos pés de milhões de brasileiros.
Barbosa deixa claro que, nos Estados Unidos, (**) onde as políticas afirmativas foram mais fundo, mesmo lá, a batalha teve que ser ganha, passou a passo, na Justiça.
Lá, como aqui, Gilmares Dantas e seus aliados no DEMO tentaram reverter o legado de Johnson.
Nesse aspecto, ressalta a figura excepcional da ministra da Suprema Corte, Ruth Bader Ginsburg, nomeada por Clinton.
O PiG (*) se deixa invadir pelo pensamento “anti-ação afirmativa”.
O PiG (*) é contra a “ação afirmativa”.
Como o DEMO, partido que foi ao Supremo contra ela e contra o ProUni.
Hoje, na página de (uma só) Opinião do Globo há outro artigo contra a “ação afirmativa”.
O Cardeal Ratzinger do jornal nacional, o Ali Kamel (***), escreveu um livro contra a “ação afirmativa”.
E conseguiu fazer uma pirueta com o Fernando Henrique Cardoso.
FHC foi o primeiro presidente a executar alguma forma de “ação afirmativa”.
Tímida, mas fez.
O Kamel pegou o Fernando Henrique, tirou as idéias do FHC do lugar, e o FHC ficou quieto (afinal, a Globo é a Globo …)
Quase que o Kamel põe o FHC na KKK.
Com o Lyndon Johnson não teve conversa.
Só agora, na eleição do Obama, os estados do Sul voltaram a votar no partido Democrata (de Johnson e Kennedy).
Estados do Sul, onde o sentimento racista é mais acentuado.
Johnson sabia que ia perder o Sul para os Republicanos.
Mas, preferiu entrar para a História sem correntes no pé.
Paulo Henrique Amorim
(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista.
(**) Barbosa mostra que entre Estados Unidos, África do Sul (onde houve o apartheid) e Brasil, o Brasil, de longe, é o país que menos abre as portas da oportunidade aos negros.
(***) Ultimamente, Ali Kamel tem sido infeliz na Justiça. Clique aqui para ir à aba “Não me calarão” e aqui para ler uma decisão contra ele: “Queijo leva PHA a derrotar Ali Kamel na Justiça”. Em lugar de perseguir ações afirmativas, Kamel deveria estudar como os jornais da tevê americana cobrem eventos esportivos de que tem a exclusividade. Para aprender a fazer uma cobertura mais barata e menos medíocre do que a do jn na Copa. E ver se melhora o IBOPE.Artigos Relacionados
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